Papoterapia, a Cris e a Ana sabem bem.
Arquivo: Sucesso da PAPOTERAPIA em oficinas geronto geriátricas de Arteterapia
Por Ana Leite – 27 de abril de 2015 10193 visualizações até fev/24
Legenda da imagem: Desenho com o título: Quando a Boca Cala o Corpo Fala. Quando o Corpo Fala o Corpo Sara. Diversas crianças e adultos estão em roda de mãos dadas e cada uma com um vaso de planta ao seu lado. No meio da roda quatro crianças estão com vasos em suas mãos. Fonte da imagem: altinopolis.sp.gov.br
“Não tampando o sol com a peneira.”
Papoterapia – rodas de conversa e reflexão gera mudanças saudáveis no dia a dia dos idosos. A prática de se organizar em roda para conversar traz inúmeros significados. A expressão por meio da linguagem oral de sentimentos, ideias, valores estão presentes em todas elas.
Papoterapia é uma oficina utilizada em uma experiência grupal, onde trazemos os idosos que visam uma melhor qualidade de vida uns para perto dos outros. É uma terapia de resgate, e esse acolhimento de pessoas em “sofrimento mental”, com medos, perdas ou anseios ou que queriam um espaço de convivência, partilham de suas experiências e trocas de momentos vividos e aprendidos na vida.
O que o Terapeuta precisa saber para oferecer situações que rendam boas rodas de conversas:
O modo como o idoso pensa e conversa. Ter uma ficha individual de hobbys, ideias, formação escolar, experiências e preferências dele para a oficina que será utilizada.
Sabemos que nossas vidas são muito corridas e o tempo tem ficado curto. O cansaço do dia não dá tempo suficiente para que as famílias possam “ouvir as queixas” dos seus familiares idosos. Esses costumam ser repetitivos, focam num problema e não conseguem se livrar de tais preocupações, isso porque ele vive aquela realidade no seu momento e quer encontrar uma solução, que às vezes já foi resolvida. Falta à família se adaptar a uma linguagem ideal para esclarecimento ao idoso. Devemos evitar que as pessoas idosas, já com comprometimento “mental” tenham assuntos desagradáveis em suas vidas.
Diz a filosofia japonesa que temos dois ouvidos e uma boca, então, temos que escutar mais e falar menos. Vamos ouvir, vamos debater e ajudar uns aos outros. Falar e ouvir, expor e escutar, declarar e receber informações, são tesouros da nossa comunicação verbal e corporal, interpessoal e sentimental.
Já as conversas informais são comuns na rotina e contribuem para estabelecer afetividade no grupo, oferecendo importantes elementos e informações para que o Terapeuta possa conhecer melhor a sua turma de idosos e planejar novas situações a partir das necessidades e interesses desses idosos. Essa ação, permite a livre expressão sem o compromisso sistemático de avançar, esmiuçar e chegar ao conhecimento mais elaborado. Neste momento a participação dos idosos, falando, é maior, e o terapeuta tem importante papel de ouvinte atento e de mediador para que todos possam falar. A conversa fica mais solta. É muito comum que as rodas de conversa tenham temas e assuntos diversos.
Este momento contribui para que os idosos sejam capazes de construir conhecimentos importantes para o seu desenvolvimento cognitivo e motor. Estimular para que aprendam a observar, perguntar, levantar hipóteses, imaginar, pensar e buscar memórias exercitando seu cérebro e uma nova visão do acontecimento.
O grupo é idealizado entre pessoas de culturas e ideais diferentes, o que torna a oficina muito enriquecedora em uma proposta cheia de novidades. Os conflitos saudáveis do bate papo, como vivências e formas de pensar, direcionadas pela Terapeuta, oferecem dinâmicas acolhedoras e rodas de conversas que atendem todas as diferenças culturais do grupo da Terceira Idade e Quarta Idade. Independente de idade, classe econômica, eles são seres humanos e muitas vezes partilham dos mesmo problemas. Esses idosos, em pouco tempo, com a papoterapia, sofrem mudanças benéficas no comportamento. Observamos que é uma atividade salutar, já que, com o apoio da “escuta” (desabafo), eles liberam sentimentos negativos que perturbam suas vidas, e se sentem mais confortáveis e confiantes.
A construção de ideias é coletiva, mas a conclusão é individual. Os idosos são pessoas vividas e experientes e a sua capacidade de responder ao Terapeuta e colegas idosos, precisa ser estimulada e capacidade de perguntar precisa ser valorizada.
Os familiares passam sem querer, muitas preocupações e angústias aos seus idosos, achando que o eles precisam estar a par da situação. Entretanto, um comentário que muitas vezes já foi solucionado, para este idoso, ainda permanece dando a impressão dele fazer parte desse problema. Ele sente culpa em não poder ajudar e ainda tem a impressão de ser um “peso-morto” no familiar-cuidador, responsável pelos seus cuidados diários.
A Papoterapia Geronto Geriátrica bem dirigida, tem como objetivo deixar as pessoas bem à vontade e seguras durante o processo. Além disso, gera mudança na postura mental, poder de reflexão, aumenta a oralidade. Alguns idosos afirmam que essa forma de terapia ajuda a “tirar um peso dos ombros”, sentem o retorno de sua felicidade interior e uma melhoria na qualidade de vida diária.
O que o Terapeuta precisa saber para oferecer situações que rendam boas rodas de conversas:
1- O modo próprio como o idoso pensa e conversa:
Importante ter uma ficha de avaliação individual de cada idoso com os seus hobbys, ideias, formação escolar, experiências importantes vividas e preferências pessoais desse idoso para a oficina. A ficha pode ser preenchida pelo próprio idoso ou pelo seu familiar idoso que tem também mais detalhes desse familiar e o momento em que está vivenciando.
O idoso tem seus conceitos, vivências e suas emoções para expor seus sentidos e conhecimentos, quando bem estimulados.
Quanto mais rica for a experiência pessoal do idoso, é considerado mais material para sua imaginação, terá a sua disposição mais construção de conhecimentos.
2 – Planejar boas situações para conversa:
Se utilizar de textos, histórias, imagens, músicas e etc. como elemento desencadeador. Precisa conhecer bem o material para saber mediar as falas durante a conversa.
Pensar em possibilidades de conversas que o material oferece.
Garantir espaço e tempo adequado para o momento planejado para a conversa.
Respeitar o tempo de “concentração” dos idosos. A faixa etária e limites devem ser levados em consideração. Os idosos da quarta idade ou com algum tipo de falta de memória se dispersam com maior facilidade.
3-Valorizar as conversas espontâneas dos idosos.
Ouvir o que os idosos pensam livremente, em especial enquanto fazem suas atividades e lanches (exemplo, no intervalo do cafezinho).
4-Observar e registrar (quando necessário transcrever as conversas dos idosos) para:
Compreender como os idosos pensam.
Saber o que eles: gostam, sonham, suas dificuldades, desejos, valores e etc.
Fazer planejamentos de novas situações.
5-Ser o mediador e não o doutrinador durante a conversa.
Não impor seus valores como corretos.
Participar como sendo mais um membro do grupo.
Não concluir a ideia no lugar do idoso.
Respeitar a possibilidade e a necessidade de cada um concluir por si e para si.
De novo, a construção de ideias é coletiva, mas conclusão é individual. Os idosos são pessoas vividas e experientes e a sua capacidade de responder ao Terapeuta e colegas precisa ser estimulada e valorizar a capacidade de perguntar.
Por Cristiane Mayworm | Arteterapeuta da Ana Neri Day Idosos e o tema escolhido: Não tampando o sol com a peneira foi escolhido pela Ana Lúcia Monteiro Diretora da Ana Neri Day que idealizou uma casa que trouxesse uma programação diferenciada todas as semanas para as pessoas com mais de 60 anos que estivessem ativas, com energia e que buscassem atividades, lazer, música e fazer novas amizades, como era o desejo da sua mãe Neusa Monteiro Teixeira.
Texto: ano de 2015 quando atuou na Ana Neri Day, centro dia para idosos junto a Enfermeira Ana Lúcia Monteiro em Centros dias, Instituições de Longa Permanência, cursos livres na EGDS da Prefeitura de Campinas/SP para cuidadores de saúde e familiares e hospitais.
Publicado na Reab: https://www.reab.me/sucesso-da-papoterapia-em-oficinas-geronto-geriatricas-de-arteterapia/